O mercado automotivo brasileiro acaba de presenciar um marco que sinaliza, de forma inequívoca, uma nova era. Em um movimento que seria impensável há poucos anos, a gigante chinesa BYD ultrapassou a tradicional e consolidada Honda, assumindo a sétima posição no ranking das marcas mais vendidas no país no acumulado de 2025.
Este não é um resultado pontual, mas sim a consolidação de uma tendência que vem se desenhando mês a mês. A ascensão meteórica da BYD, impulsionada por uma estratégia agressiva e um portfólio focado em eletrificação, está reescrevendo a hierarquia da indústria nacional e serve como um alerta para as fabricantes estabelecidas.
Analisando os Números: A Escalada da BYD

Os dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) confirmam a virada. Entre janeiro e agosto de 2025, a BYD emplacou 66.419 veículos, contra 65.589 unidades da Honda.
Para se ter uma dimensão da velocidade dessa escalada, basta olhar para o fechamento do ano anterior. Em 2024, a BYD encerrou o período na décima colocação, bem atrás da Honda (9ª) e da Nissan (8ª).
A ultrapassagem em 2025 foi construída de forma consistente, com a marca chinesa superando a rival japonesa em meses cruciais como abril, maio, julho e agosto, indicando que a nova posição no ranking tem bases sólidas.
O Fator Decisivo: A Estratégia de Eletrificação
A explicação para o sucesso da BYD supera a Honda pode ser resumida em uma palavra: eletrificação. A marca chinesa apostou todas as suas fichas em um portfólio exclusivamente composto por veículos híbridos e elétricos, e essa aposta se provou certeira.
Apenas em 2025, a BYD comercializou 31.953 veículos eletrificados. No mesmo período, a Honda, que foi pioneira com o Accord e o Civic híbridos no passado, emplacou apenas 1.774 unidades com essa tecnologia. A diferença é de quase 18 vezes, um número que ilustra perfeitamente o abismo estratégico entre as duas marcas no que tange à mobilidade sustentável no Brasil.
Enquanto a BYD inunda o mercado com um volume expressivo de modelos como o King, o Song Pro e o Dolphin Mini, a Honda concentra sua produção nacional em modelos a combustão.
Produção Nacional: O Jogo de Fábricas e Investimentos
As estratégias industriais de ambas as montadoras também ajudam a contar essa história. A Honda, com uma longa trajetória de produção no Brasil desde 1997, atualmente fabrica o HR-V e a linha City em Itirapina (SP), com um futuro investimento focado em um motor híbrido flex.
A BYD, por outro lado, adotou uma abordagem multifacetada. Além de uma forte estratégia de importação, a empresa já iniciou a produção nacional de três de seus modelos de volume em Camaçari (BA) e também anunciou o desenvolvimento de seu próprio motor híbrido flex, que estreará no Song Pro.
Essa combinação de importação em massa com o rápido estabelecimento de uma base produtiva local permitiu à BYD ganhar escala e capilaridade em um ritmo sem precedentes.
O Cenário Completo: Como Fica o Top 10 do Mercado?
A ascensão da BYD acontece em um mercado que mantém suas lideranças consolidadas. A Fiat continua soberana na primeira posição, seguida pela Volkswagen, que se mantém firme como a segunda força do país. A Chevrolet ocupa a terceira colocação.
A briga pelas posições intermediárias é acirrada, com Toyota e Hyundai disputando o quarto lugar. A Renault aparece na sexta posição, logo à frente da nova sétima colocada, a BYD, que agora vê a Honda pelo retrovisor na oitava posição.
Conclusão: Um Sinal dos Novos Tempos
O fato de que a BYD supera a Honda é mais do que uma simples notícia de ranking; é um sintoma poderoso da transformação do mercado automotivo. Ele demonstra a velocidade com que novas marcas, focadas em tecnologia e eletrificação, podem desafiar hierarquias que pareciam imutáveis.
A crescente aceitação dos veículos híbridos e elétricos pelo consumidor brasileiro, aliada a uma estratégia de produto e preço extremamente competitiva, foi a fórmula da BYD para o sucesso. Para a Honda e outras marcas tradicionais, o avanço da concorrência chinesa é um chamado à ação, provando que o futuro da indústria automotiva no Brasil será definido pela capacidade de inovar e se adaptar rapidamente às novas demandas por mobilidade sustentável.