Um forte tremor acaba de sacudir os alicerces dos mercados automotivo e financeiro globais. A Berkshire Hathaway, lendária empresa de investimentos do bilionário Warren Buffett, confirmou que zerou completamente sua participação acionária na BYD, a gigante chinesa que avança de forma avassaladora no Brasil.
A notícia tem um peso imenso. Quando o homem conhecido como o “Oráculo de Omaha”, famoso por sua capacidade quase premonitória de farejar o estouro de bolhas e identificar valor a longo prazo, decide encerrar uma de suas apostas mais bem-sucedidas, o mundo inteiro para e presta atenção.
O movimento levanta uma questão inevitável: o que o maior investidor do mundo viu no futuro da BYD que o fez decidir sacar todo o seu dinheiro da mesa?
Um dos Investimentos Mais Lucrativos da História
Para entender a dimensão da decisão, é preciso voltar a 2008. Naquela época, seguindo uma recomendação de seu sócio, Charlie Munger, Buffett investiu US$ 230 milhões para adquirir 225 milhões de ações da então pouco conhecida fabricante chinesa.
O que se seguiu foi uma das valorizações mais espetaculares da história recente. Com o boom dos veículos elétricos, as ações da BYD dispararam. No auge, em 2022, o investimento inicial de Buffett havia se transformado em aproximadamente US$ 9 bilhões, uma valorização de quase 3.900%.
Este não foi um investimento ruim que deu errado; foi um sucesso estrondoso que, agora, chegou ao fim.
A Saída Gradual: Uma Venda Planejada, Não um Pânico
É importante ressaltar que a decisão de vender não foi tomada da noite para o dia. A Berkshire Hathaway iniciou a redução de sua fatia de forma gradual ainda em 2022.
Ao longo dos últimos anos, a empresa foi se desfazendo de suas ações de forma planejada. Em meados de 2024, a participação já havia caído para menos de 5%, um nível que não exige mais a divulgação obrigatória das negociações na bolsa de Hong Kong.
Os relatórios de março de 2025 apenas confirmaram o que o mercado já suspeitava: a posição foi totalmente liquidada. Isso demonstra que a saída foi uma estratégia deliberada, e não uma reação impulsiva a um evento específico.
Por que Vender Agora? As Teorias por Trás da Decisão
Buffett, como de costume, não detalhou os motivos exatos para a venda, mas o mercado trabalha com três hipóteses principais que, combinadas, podem explicar a manobra.
1. Realização de Lucros: A explicação mais simples e óbvia. Após uma valorização tão massiva, liquidar a posição é a forma mais segura de garantir os lucros e proteger o capital contra futuras volatilidades. O próprio Buffett afirmou que poderia aplicar os recursos em “outras oportunidades”.
2. O “Farejador de Bolhas”: Buffett é famoso por vender seus ativos quando acredita que eles atingiram seu pico de valorização. A saída total da BYD pode ser um sinal de que ele acredita que o ciclo de crescimento explosivo e as altas avaliações das empresas de veículos elétricos podem estar chegando a um ponto de saturação ou correção.
3. Riscos Geopolíticos e de Mercado: O cenário global mudou muito desde 2008. A crescente tensão entre China e o Ocidente, somada a uma guerra de preços brutal dentro do próprio mercado chinês, pode ter aumentado o nível de risco a um patamar que não agrada mais ao perfil conservador de Buffett, que preza por negócios com alta previsibilidade.
O Impacto no Brasil e na Percepção da Marca
Para o consumidor brasileiro, que vê a BYD em um momento de expansão meteórica e lançamentos constantes, a notícia pode parecer contraditória. E, na prática, ela não deve ter nenhum impacto imediato nas operações da empresa por aqui.
A qualidade dos produtos, a agressividade comercial e os planos de produção nacional da BYD no Brasil seguem inalterados.
No entanto, para o mercado e para investidores, o movimento do maior nome do capitalismo mundial serve como um importante ponto de reflexão. Ele indica que, apesar do sucesso avassalador, a jornada da BYD (e de todo o setor de elétricos) ainda envolve riscos e incertezas no longo prazo.
Conclusão: Um Ponto de Interrogação no Futuro da Gigante Chinesa
A saída completa de Warren Buffett da BYD encerra uma das parcerias mais lucrativas da história das finanças. Embora não seja um decreto de fracasso para a montadora, que continua a ser uma força dominante e inovadora, o movimento coloca um grande ponto de interrogação sobre a sustentabilidade de seu crescimento a longo prazo.
O “Oráculo de Omaha” fez sua jogada. Agora, o resto do mundo observará atentamente para ver qual será o próximo capítulo na extraordinária história da BYD.
