Para toda uma geração, a imagem de um carro futurista está permanentemente gravada na memória: portas que abrem para cima, uma carroceria de aço que não enferruja e a capacidade de viajar no tempo ao atingir 88 milhas por hora. Este é o legado do DeLorean DMC-12, um carro que se tornou infinitamente mais famoso que sua própria história.
Graças à trilogia “De Volta para o Futuro”, o DMC-12 transcendeu o status de automóvel para se tornar um dos maiores ícones da cultura pop de todos os tempos.
No entanto, por trás do capacitor de fluxo e das viagens no tempo, existe uma história real de ambição, design genial, performance decepcionante e um colapso dramático. Vamos desvendar todos os segredos do carro que precisou do cinema para se tornar imortal.
O Design: Uma Visão do Futuro que Veio da Itália
O visual do DeLorean DMC-12 é, até hoje, absolutamente espetacular e único. E não é por acaso. O projeto foi assinado por um dos maiores mestres do design automotivo, o italiano Giorgetto Giugiaro, e seu estúdio, a Italdesign.
A carroceria em formato de cunha, com linhas retas e angulares, era a personificação do design futurista no final dos anos 70 e início dos 80.
O grande diferencial, no entanto, era a escolha dos materiais. O carro era revestido com painéis de aço inoxidável escovado, dispensando pintura. A ideia era criar um veículo que nunca enferrujasse e que tivesse uma aparência única. Na prática, isso também o tornava extremamente difícil de reparar em caso de riscos e um verdadeiro ímã para marcas de dedo.
E, claro, as icônicas portas asa-de-gaivota. Elas não eram apenas um truque de estilo; foram um desafio de engenharia, necessitando de barras de torção especiais desenvolvidas pela indústria aeroespacial para garantir sua abertura suave em espaços relativamente apertados.
A Realidade da Performance: Longe de Atingir 88 milhas por hora
Se o visual do DeLorean DMC-12 era de um supercarro, seu desempenho contava uma história bem diferente. E este foi um dos principais motivos de seu fracasso comercial.
O coração do DeLorean era um motor 2.8 V6 PRV, um projeto conjunto entre Peugeot, Renault e Volvo. Na versão para o mercado americano, por conta das rígidas leis de emissões da época, este motor produzia apenas cerca de 130 cavalos de potência.
Para um carro com uma aparência tão esportiva e um preço elevado, a performance era desanimadora. A aceleração de 0 a 100 km/h levava mais de 10 segundos. A famosa marca de 88 milhas por hora (142 km/h) era atingível, mas sem a urgência e a emoção que o cinema nos fez acreditar.
Ficha Técnica: DeLorean DMC-12 (Especificações Originais)
Para entender os números por trás da performance modesta, confira a ficha técnica original do modelo.
| Ficha Técnica | DeLorean DMC-12 |
| Motor | 2.85L V6 PRV (Peugeot-Renault-Volvo) |
| Posição | Traseiro-central |
| Potência | ~132 cv @ 5.500 rpm |
| Torque | ~22,4 kgfm @ 2.750 rpm |
| Câmbio | Manual de 5 marchas ou Automático de 3 marchas |
| Tração | Traseira |
| 0-100 km/h | ~10,5 segundos (Manual) |
| Comprimento | 4.216 mm |
| Entre-eixos | 2.413 mm |
| Carroceria | Aço inoxidável sobre chassi de aço |
| Peso | ~1.230 kg |
A História Conturbada: O Sonho e a Queda de John DeLorean
A história do carro está intrinsecamente ligada à de seu criador, John Z. DeLorean, um engenheiro brilhante e executivo rebelde que deixou uma carreira de sucesso na General Motors para criar sua própria montadora.
O sonho de DeLorean era construir um “carro ético”, seguro, durável e com um design espetacular. Com um forte investimento do governo britânico, ele construiu uma fábrica de última geração na Irlanda do Norte.
No entanto, o projeto foi atormentado por atrasos e custos crescentes. Quando o carro finalmente chegou ao mercado, em 1981, ele era muito mais caro do que o planejado. A crise financeira se instalou rapidamente.
O golpe final veio em 1982, quando John DeLorean foi preso em uma polêmica armadilha do FBI, acusado de envolvimento com tráfico de drogas na tentativa de salvar sua empresa. Embora ele tenha sido posteriormente absolvido de todas as acusações, sua imagem foi manchada e a DeLorean Motor Company faliu.
O Legado: Como “De Volta para o Futuro” Salvou o DeLorean
No início dos anos 80, o DeLorean DMC-12 era considerado um dos grandes fracassos da indústria automotiva. Apenas cerca de 9.000 unidades foram produzidas, e o carro parecia destinado ao esquecimento.
Tudo mudou em 1985, com a estreia do filme “De Volta para o Futuro”. Os produtores escolheram o DMC-12 para ser a máquina do tempo do Dr. Emmett Brown precisamente por seu visual futurista e excêntrico.
O sucesso estrondoso do filme ressuscitou o carro. Ele deixou de ser um fracasso comercial para se tornar um objeto de desejo e um símbolo de aventura e imaginação para milhões de pessoas em todo o mundo.
Conclusão: O Carro que Precisou do Futuro para Viver para Sempre
A jornada do DeLorean DMC-12 é uma das mais incríveis do mundo automotivo. Nascido de uma visão ambiciosa, mas com uma execução falha, ele estava destinado a ser uma nota de rodapé na história.
No entanto, a magia do cinema lhe concedeu a imortalidade. O filme não apenas salvou o DeLorean do esquecimento; ele o transformou em uma lenda, provando que, às vezes, um carro pode ser muito mais do que apenas a soma de suas partes. E, no caso do DeLorean, ele se tornou uma máquina dos sonhos que, para sempre, nos levará de volta para o futuro.
