No universo hipercompetitivo dos carros elétricos, a engenharia reversa – o ato de desmontar um produto concorrente para estudar seus segredos – é uma prática comum, mas raramente admitida em público. Foi por isso que o mundo automotivo parou para ouvir a recente e surpreendente confissão de Lei Jun, o carismático CEO da Xiaomi.
Durante seu discurso anual em Pequim, o executivo revelou abertamente que a gigante da tecnologia, para desenvolver seu primeiro carro elétrico, comprou e desmontou completamente três unidades do Tesla Model Y.
A declaração não é apenas uma anedota curiosa; é um símbolo da intensidade da nova guerra fria tecnológica e um atestado do status da Tesla como a referência a ser batida.
A Confissão: “Nós Desmontamos Três Model Y”
Diante de um grande público no Centro Nacional de Convenções de Pequim, Lei Jun foi notavelmente transparente sobre o processo de desenvolvimento de seu carro.
“Compramos, no início deste ano, três Model Y, desmontamos as peças individualmente e examinamos cada componente separadamente”, afirmou o CEO.
Longe de criticar o concorrente, Lei Jun teceu elogios ao SUV da Tesla, classificando-o como “um carro realmente bom”. Em um ato de extrema confiança em seu próprio produto, ele chegou a dizer à plateia: “Se você não optar pelo [Xiaomi] SU7, pode considerar o Model Y”.
O Cenário Maior: A Guerra Fria dos Elétricos
A confissão de Lei Jun encapsula perfeitamente o momento atual da indústria automotiva global.
De um lado, a Tesla, que por anos ditou as regras e estabeleceu os benchmarks de tecnologia e produção, agora enfrenta uma queda nas vendas em seus mercados principais e a pressão para lançar um veículo mais acessível.
Do outro, uma ofensiva chinesa avassaladora. Marcas como a BYD e a própria Xiaomi estão expandindo agressivamente para a Europa e outros mercados, com planos de oferecer seus veículos a partir de 2027 no continente.
Essa expansão é impulsionada, em parte, por um problema interno da China: um excesso de produção de veículos elétricos, que torna a exportação uma necessidade estratégica para a sobrevivência e o crescimento dessas empresas.
Conclusão: Respeito, Ambição e um Aviso ao Mercado
A declaração do CEO da Xiaomi é um misto de homenagem e declaração de guerra. Ao admitir que desmontou o Model Y, ele reconhece a excelência da engenharia da Tesla e a coloca como o padrão a ser alcançado.
Ao mesmo tempo, ao fazer isso em público e já posicionando seu SU7 como um rival à altura, ele envia um recado claro para o mercado e para a concorrência.
A era em que a Tesla operava em um universo à parte acabou. Agora, ela é o alvo principal, e novos gigantes da tecnologia, com imensos recursos e uma agilidade impressionante, estão dispostos a fazer de tudo – inclusive confessar seus segredos – para aprender, superar e conquistar seu lugar ao sol.