BYD no Brasil: Fábrica em Camaçari enfrenta atrasos, denúncias e expectativas frustradas

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O anúncio da nova fábrica da BYD em Camaçari (BA) trouxe esperança para a indústria automotiva brasileira. A promessa era ousada: retomar a produção local em um terreno icônico (antiga planta da Ford), gerar até 10 mil empregos e colocar o Brasil em destaque na era dos carros elétricos. Mas a realidade que se desenha em 2025 é bem diferente da empolgação inicial.

Com denúncias trabalhistas, atrasos nos cronogramas e uma produção em ritmo lento, a montadora chinesa enfrenta uma série de desafios que colocam em xeque o sucesso do seu projeto no país. A produção em larga escala só deve começar em dezembro de 2026, frustrando expectativas e revelando os obstáculos da chamada “revolução elétrica” brasileira.


Produção real só em 2026: expectativa virou frustração

Fábrica da BYD

Inicialmente, a BYD havia anunciado que os primeiros veículos seriam montados já no primeiro trimestre de 2024, logo após o Carnaval. No entanto, esse cronograma foi atropelado por denúncias sérias envolvendo condições precárias de trabalho, que ganharam repercussão na mídia nacional. A situação fez com que o início da produção fosse adiado e a imagem da empresa sofresse um abalo logo na largada.

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O secretário estadual da Bahia, Augusto Vasconcelos, confirmou recentemente que a produção plena deve mesmo acontecer só no fim de 2026. Até lá, a montadora pretende montar os carros parcialmente, em um modelo semelhante ao que a Caoa Chery utilizou no início de sua operação no Brasil. Ou seja: por enquanto, nada de indústria 100% nacional.

Apesar disso, a BYD ainda pretende montar algumas unidades em 2024, em caráter limitado, enquanto busca ajustar sua operação e logística.


O que será produzido na fábrica da BYD?

Quatro modelos foram confirmados para a produção nacional em Camaçari:

  • BYD Dolphin
  • BYD Dolphin Mini
  • BYD Song Plus
  • BYD Song Pro (substituindo o Yuan Plus inicialmente previsto)

Esses modelos fazem parte da estratégia da marca para popularizar veículos eletrificados no Brasil, com capacidade total estimada de 150 mil veículos por ano assim que a fábrica estiver operando a pleno vapor. Porém, até 2026, essa capacidade seguirá bem abaixo do prometido.


O peso do passado: o legado da Ford em Camaçari

A planta industrial escolhida para o projeto da BYD tem um simbolismo forte. A antiga fábrica da Ford, encerrada em 2021, foi por muitos anos um dos polos mais importantes do setor automotivo no Nordeste. Quando a montadora chinesa anunciou sua chegada ao local, a expectativa era de renascimento para a economia local.

Porém, em 2024, segundo o sindicato dos metalúrgicos de Camaçari, apenas cerca de 1.000 trabalhadores foram contratados — número muito aquém dos 10 mil empregos diretos e indiretos prometidos. Isso reforça o sentimento de frustração entre os trabalhadores e autoridades locais, que viam na BYD uma saída para o vácuo deixado pela Ford.


Denúncias de trabalho análogo à escravidão

Logo no início da operação, a BYD enfrentou uma grave crise de imagem. Denúncias de condições de trabalho análogas à escravidão surgiram, apontando jornadas exaustivas, alojamentos inadequados e violações de direitos trabalhistas. O caso repercutiu fortemente na imprensa e gerou pressão sobre a montadora, que precisou se reposicionar e rever práticas internas.

Esse episódio não só atrasou o cronograma da fábrica como também deixou um clima de desconfiança sobre o futuro da marca no Brasil. A imagem sustentável e tecnológica que a BYD tentava construir colidiu com práticas que vão na contramão da responsabilidade social.


Apesar dos problemas, o Brasil é prioridade

Mesmo enfrentando todos esses desafios, o mercado brasileiro é estratégico para a BYD. Só nos primeiros meses de 2025, a montadora vendeu mais de 30 mil veículos por aqui, superando marcas tradicionais como Peugeot e alcançando a nona posição no ranking de vendas.

Grande parte desse sucesso se deve ao apelo dos modelos elétricos e híbridos, que conquistaram o consumidor brasileiro com design moderno, bom custo-benefício e promessa de sustentabilidade. Mas há um problema: todos os modelos vendidos ainda são importados, o que limita o impacto real da BYD na industrialização e na geração de empregos no país.


A promessa que ainda não virou realidade

O caso da BYD expõe uma realidade recorrente no setor automotivo brasileiro: promessas grandiosas de investimentos, inovação e geração de empregos que demoram — ou simplesmente não se concretizam. O discurso de “revitalização da indústria” esbarra, na prática, em estruturas frágeis, denúncias trabalhistas, atrasos logísticos e lentidão nos processos.

Embora o Brasil esteja pronto para ser um dos líderes no mercado de veículos elétricos na América Latina, a BYD ainda precisa superar barreiras importantes para consolidar sua presença como produtora nacional e não apenas como uma montadora dependente da importação.


Conclusão: esperança ou ilusão?

A fábrica da BYD em Camaçari ainda pode se tornar um marco na transformação da indústria brasileira. Mas, por enquanto, ela representa mais um símbolo de expectativas adiadas do que de inovação concretizada. A marca tem potencial, apelo popular e mercado. Falta agora cumprir o que prometeu — e reconquistar a confiança dos brasileiros.

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