Você já imaginou mexer tanto em um carro que a própria montadora tenta te impedir de andar com ele? Pois é, isso aconteceu com uma Ferrari F40 na década de 1990. A história envolve uma oficina britânica ousada, uma das Ferraris mais icônicas de todos os tempos, e uma briga judicial que virou lenda no mundo automotivo.
Essa curiosidade é daquelas que todo gearhead adora, porque mostra o que acontece quando engenheiros independentes resolvem “melhorar” um supercarro que, teoricamente, já era perfeito.
A Ferrari F40: a última aprovada por Enzo
Antes de falar da treta, vale lembrar que a Ferrari F40 não é qualquer carro. Ela foi lançada em 1987 para comemorar os 40 anos da Ferrari e foi o último modelo aprovado pessoalmente por Enzo Ferrari antes de sua morte. Ou seja, já nasceu como lenda.
Com motor V8 biturbo de 2.9 litros, tração traseira e 478 cv, a F40 era um monstro para a época. Leve, brutal e sem frescura: sem rádio, sem ar-condicionado e com um acabamento bem espartano. Tudo em nome da performance.
Mas, para alguns, isso não era o suficiente…
A oficina que teve a coragem de “melhorar” uma F40
A história começa com a GTC Motorsport, uma oficina britânica especializada em Ferraris e outros esportivos exóticos. Um cliente rico, dono de uma F40, queria algo a mais. Ele queria que o carro fosse mais rápido, mais confortável e mais exclusivo.
A GTC aceitou o desafio e fez um trabalho cirúrgico: instalaram freios melhores, suspensão ajustável, trocaram os turbos originais por outros mais eficientes, além de colocar interior em couro de alto padrão, ar-condicionado e até sistema de som discreto.
O resultado? A chamada “F40 GTC”, uma versão mais potente, mais refinada e até mais estável que a original. Um trabalho primoroso… só que teve um pequeno problema.
Encontrar imagens da raríssima Ferrari F40 GTC não é tarefa fácil. Por se tratar de uma versão extremamente limitada, desenvolvida especialmente para competição e com poucas unidades produzidas, registros fotográficos desse modelo específico são escassos.
Ferrari não gostou nem um pouco
Quando a Ferrari soube da existência da F40 GTC, a marca ficou simplesmente furiosa. A empresa italiana considerou aquilo um desrespeito à obra-prima de Enzo. Pior: o logotipo da Ferrari ainda estava no carro, e o proprietário dizia por aí que era “melhor que a original”.
Resultado? A Ferrari acionou seus advogados e entrou com um processo judicial tentando proibir a circulação da F40 modificada, além de exigir que o nome “Ferrari” fosse removido do carro.
Segundo relatos da época, a Ferrari alegava que o carro “não representava os padrões da marca” e que era “um risco à reputação da empresa”. O dono, por outro lado, disse que o carro ainda era uma Ferrari — só que melhor.
Final da treta: a justiça deu ganho de causa a quem?
Depois de meses de polêmica e manchetes, a decisão da justiça britânica foi curiosa: a F40 GTC podia continuar rodando, desde que não fosse anunciada como “Ferrari oficial” ou como uma “versão autorizada”. O nome Ferrari e o cavalo rampante podiam permanecer no carro, mas com ressalvas.
Na prática, a Ferrari perdeu o controle total da narrativa, e a F40 GTC virou lenda entre os entusiastas, sendo considerada por muitos como uma das “melhores Ferraris não oficiais da história”.
Hoje em dia, o carro é peça rara. Estima-se que apenas duas unidades tenham sido feitas pela GTC. E ambas valem mais que uma F40 original em bom estado, justamente pelo histórico e pela exclusividade.
O que essa história nos ensina?
O mundo automotivo está cheio de curiosidades como essa, onde paixão, ego e engenharia se misturam. A F40 GTC é a prova de que, mesmo diante de marcas gigantes como a Ferrari, sempre vai existir alguém disposto a ir além.
Essa história também mostra o lado “ciumento” de montadoras que não gostam de ver suas criações modificadas. E ao mesmo tempo, mostra que o mundo automotivo vive de ousadia – seja dos engenheiros de fábrica, seja dos apaixonados nas oficinas.