A Nikola Corporation, uma das startups mais ambiciosas da mobilidade sustentável, entrou com pedido de falência nos Estados Unidos sob o Capítulo 11, marcando o colapso de uma empresa que chegou a valer mais que a Ford no auge da euforia por veículos elétricos.
Mesmo com promessas revolucionárias no transporte de cargas, caminhões movidos a hidrogênio e elétricos e grande visibilidade no mercado, a Nikola não resistiu à pressão financeira, à queda na demanda e ao impacto de escândalos internos. Agora, com ativos que somam entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão, mas passivos que podem chegar a US$ 10 bilhões, a empresa caminha para a liquidação parcial, mantendo apenas operações básicas até a conclusão do processo.
Pedido de falência da Nikola revela crise interna

A decisão de pedir recuperação judicial foi anunciada em fevereiro de 2025. A Nikola enfrentava uma tempestade financeira que já vinha se formando desde os escândalos envolvendo seu fundador, Trevor Milton, condenado por fraude. O prejuízo de imagem e confiança somou-se a desafios técnicos, como os incêndios registrados nas baterias de seus caminhões elétricos em 2023.
Mesmo com tentativas de corte de gastos e busca por novos aportes, a diretoria da empresa concluiu que o caminho mais viável seria a reestruturação judicial. A Nikola possuía cerca de US$ 47 milhões em caixa para manter apenas os serviços essenciais, como atendimento a clientes e suporte aos caminhões já vendidos, até o encerramento oficial das atividades — previsto para março de 2025.
O que deu errado com a Nikola?
No papel, a Nikola parecia pronta para liderar a revolução dos caminhões sustentáveis, principalmente com a aposta em células de hidrogênio. Seu valor de mercado já havia ultrapassado os US$ 30 bilhões, animando investidores e analistas. Mas a realidade operacional não acompanhou o hype.
Além das promessas não cumpridas, o modelo de negócio da Nikola sofreu com altos custos operacionais, atrasos no desenvolvimento tecnológico, infraestrutura deficiente para abastecimento de hidrogênio e forte concorrência no setor de elétricos pesados.
A crise interna se agravou após os problemas técnicos dos caminhões e o impacto direto da má reputação deixada pelo fundador. A falta de receitas estáveis e de uma base sólida de clientes colocou a empresa em situação insustentável.
Saída da bolsa e leilão de ativos
Junto ao pedido de falência, a Nikola iniciou a retirada voluntária da Nasdaq e o cancelamento do registro junto à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA), reforçando que não pretende seguir como empresa de capital aberto.
Os ativos restantes da companhia estão sendo leiloados, e parte das estruturas já atraiu interesse do mercado. A Lucid Group, por exemplo, anunciou a compra de instalações da Nikola no Arizona e pretende manter mais de 300 empregos ligados à antiga operação da rival.
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Impacto para o setor de caminhões a hidrogênio
A queda da Nikola levanta um sinal de alerta sobre o futuro dos caminhões a hidrogênio. Embora essa tecnologia ainda tenha potencial, os altos custos de produção, a falta de infraestrutura adequada e os entraves regulatórios dificultam sua expansão.
Analistas indicam que a falência da Nikola pode atrasar ainda mais a adoção em larga escala dessa solução, já que investidores tendem a ser mais cautelosos após o episódio. Além disso, empresas menores que seguiam o mesmo caminho da Nikola podem perder espaço ou mesmo não conseguir sobreviver sem apoio estratégico.
O futuro da Nikola: haverá salvação?
Por enquanto, a Nikola mantém apenas o essencial funcionando, enquanto tenta atrair um comprador ou parceiro disposto a resgatar partes de sua operação. Contudo, não há garantias de que isso vá acontecer. A falta de liquidez, o histórico manchado e o cenário competitivo dificultam qualquer movimento de resgate completo.
Mesmo com alguma venda de ativos e manutenção de empregos temporária, a realidade é que os acionistas dificilmente verão retorno, caso o montante arrecadado não cubra as dívidas da empresa — o que, pelas estimativas, parece improvável.
Conclusão: uma lição para startups automotivas
A história da Nikola serve como alerta para o mercado de veículos sustentáveis. Ter um projeto inovador e apoio de investidores não basta. A execução, a confiança e a sustentabilidade financeira são tão ou mais importantes do que promessas tecnológicas.
O caso também mostra que a transição energética, especialmente no transporte de cargas pesadas, ainda encontra obstáculos sérios — e que o caminho da eletrificação e do hidrogênio pode ser mais tortuoso do que o previsto.
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